Há meses que não vão à Missa
Encontrei-os de
passagem e quedámos a falar um pouquito. A certa altura, ela lá descarrega
que não tem ido à Missa. Que C. Em Agosto foram as férias, depois teve lugar a
readaptação ao dia-a-dia, houve necessidade de comprar as coisas para as aulas
dos meninos e prepará-los
para um novo ano lectivo, meteu-se o São Miguel, seguiram-se as vindimas dos
pais e dos sogros... Como que procurando desculpar-se, acrescenta de imediato
que Deus compreendia, porque é Pai... Aliás, costumava falar com Ele quando
precisava....
Ao lado, o marido, atira sorrindo: "- Oh! E para quê!? Os que lá vão ainda
são piores!"
- Não é bem assim, homem! - comentou ela com um sorriso nos lábios. - Diz a
verdade. Tu não vais porque tens vergonha dos teus colegas e amigos de café. É
ou não é?
- Oh! Lá estás tu!
- É verdade, homem! Porque não admites? Sabes bem...
- Então, quer dizer que após o encerramento da catequese, nunca mais os vossos
filhos participaram na Eucaristia dominical? - perguntei.
- Ein,
sabe como é...
- Então tanto que vos explico nas reuniões de pais, nas festas da catequese, no
boletim e no jornal, nas homilias... Valha-me Deus que é Quem pode!
Ele ficou calado. Ela foi dizendo que agora ia começar a ir, até por causa dos
filhos.
Hoje tudo serve para pôr Deus de lado. Qual 1º mandamento, qual quê? "Amar
sobre todas as coisas" é o nosso bem-estar, o nosso passeio, o nosso jogo
de futebol, a nossa manhã na cama, a nossa caça, o nosso programa de televisão,
o nosso encontro no café, o nossa corrida matinal para manter a forma, a nossa
vindima, o nosso respeito humano... Estes é que são os verdadeiros deuses para
tantos e tantas!
Qual sentido de comunidade qual carapuça! Querem lá as pessoas saber que, com a
sua ausência, prejudiquem a família cristã reunida para celebrar o seu Senhor!
Neste tempo que cheira que tresanda a egoísmo, os outros parecem só contar
quando nos interessam.
E depois este tratar Deus como o coitadinho, sempre bondosinho,
qual avô perante as travessuras dos netos. "Ele compreende!" Mas as
pessoas é que não se podem compreender quando dão a Deus tão pouco tempo e
espaço nas suas vidas. Não se podem tolerar tamanha ingratidão e injustiça,
pois a Quem tudo nos dá, quase nada damos.
Será altura de nos deixarmos de comportar como miúdos vadios, de nos assumirmos
como gente digna, nunca regateando a Deus aquilo que Lhe pertence. De outra
forma, lembrarmo-l'O
só quando precisamos, cheira a oportunismo descarado e a abuso de confiança,
revelador de uma consciência mal formada.
(De Asas da Montanha)
|